quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Medo



“Viver com medo é viver pela metade. Nunca duvide de sua capacidade divina, pois se a vida tem valor é justamente pelo fato de você ter valor diante da vida. O Mundo só existe a partir da nossa experiência consciencial e isto requer ação, não omissão.”
(Claudinei Almeida Milsone)

MEDO

Medo, palavra pequena de apenas quatro (4) letras, mas tão abrangente quanto o infinito. O medo representa um estado suscitado pela consciência de um temor, receio ou perigo, que pode ser fundamentado ou irracional, real ou imaginário.

O medo parte de um princípio positivo, em especial quando nos deparamos à   frente de um perigo real e fundamentado, pois ele atua em nosso corpo liberando altas doses de adrenalina. O coração passa a bombear mais sangue para os nossos tecidos e músculos, nossos pulmões, através dos brônquios, se expandem para captar mais oxigênio e se desencadeia toda uma série de reações orgânicas que nos preparam para a luta e o enfrentamento ou para a fuga, mas ambos visam à proteção do ser. É o instinto de sobrevivência falando mais alto.

Nossos ancestrais quando se deparavam nos primórdios da humanidade com feras, tais como leões, tigres ou outros animais selvagens não teriam a menor chance de sobrevivência se não fosse o medo disparar a adrenalina e desencadear as reações no organismo que os preparavam para a luta ou fuga. Imagine se ao invés de olharem para uma fera e sentirem medo eles reagissem: “Eu acho que eu vi um gatinho”, com certeza não existiríamos e nem estaríamos aqui para contar história.

Quem não se lembra do menino que perdeu o braço em um zoológico quando estava “brincando” com um leão. Talvez o sentimento de medo, comum nestas situações, o tivesse salvado do acidente, que por sorte não foi pior, pois poderia ter lhe custado a vida.

Portanto, esse medo, enquanto real e fundamentado, é importante para a preservação da espécie.

Entretanto, com o passar dos tempos e o avanço tecnológico não temos mais que nos defrontar com feras selvagens como nossos ancestrais e, em tese, não deveríamos viver em uma sociedade com tanto medo, correto?

Todavia, ocorre justamente o contrário, vivemos em uma sociedade onde um dos sentimentos mais generalizados é o medo, só que um medo doentio, negativo e limitador da essência humana. Vivemos pela metade. As pessoas hoje sofrem medo de tudo e de todos, são fobias e mais fobias.

As pessoas têm medo de perder o emprego, medo de não conseguirem pagar suas contas no final do mês, medo de não ser amadas, medo de se expor e não serem aceitas, medo de fracassar, medo de ficar doentes, medo de andar sozinhas à noite, outros com medo de andar de avião, medo de dirigir carro, medo de insetos, medo de água, etc. Há uma infinidade de medos que um ser humano pode nutrir.

Para citar alguns exemplos limitadores desses medos, tenho uma vizinha no meu edifício que não desce no mesmo elevador se alguém estiver com um cachorro, mesmo se for de porte pequeno e estiver no colo. Outra amiga, a quem admiro muito, que não viaja de avião, mesmo com a filha morando no exterior. Uma colega, que tem um medo tão grande de água, que somente de colocar a mão em um tanque já sofre com pensamentos aterrorizantes de estar se afogando. São exemplos de medos que limitam a expressão de nossa totalidade.

Nos casos de fobias, dos medos irracionais e imaginários, a cura passa justamente pelo enfrentamento do medo, pois em resumo, ou nós confrontamos nossos medos e os dominamos ou seremos dominados por eles.

Para curarmos nossos medos devemos fazer as coisas as quais temos medo, para aprender, através da nossa própria experiência, a não temê-las. A ação cura o medo. Se você ficar pensando muito: vou ou não vou, faço ou não faço, você estará alimentando o medo. As pessoas devem ser colocadas na situação temida para que o cérebro emocional se convença de que as coisas terríveis imaginadas não vão acontecer, ou seja, se alguma coisa te amedronta, te incomoda, não fuja, enfrente-a. Um ego maduro não busca segurança, ele sai da sua zona de conforto e vai viver a vida, enfrentando seus medos, arriscando-se, buscando, ousando.

Desta forma, ao contrário do que muitas pessoas fazem não devemos afastar os pensamentos assustadores e sim trazê-los à mente, à nossa consciência e desafiá-los, para serem examinados e reavaliados. Sufocar os medos e os pensamentos ruins torna-se contraproducente, pois quanto mais tentamos sufocá-los, mais eles se tornam recorrentes, pois você acredita neles, aceita como sendo seus e alimenta as emoções que se originam desse padrão mental e isso se torna um ciclo vicioso, onde as reações vão ficando cada mais fortes.

Portanto, não acredite em tudo que pensa. Nós podemos mudar nossos sentimentos de medo mudando os pensamentos que os produzem. Devemos verificar quais são nossas alternativas, colocar os sentimentos em perspectiva e reavaliá-los. Você continuará tendo pensamentos assustadores, continuará sentindo medo, mas descobrirá que você pode viver com eles, pode dominá-los ao invés de ser dominado por eles e experimentará uma sensação libertadora, pois estará vivenciando sua potencialidade e não se limitando ou vivendo pela metade.

Como já dizia Mark Twain, “Coragem é a resistência ao medo, domínio do medo, e não a ausência do medo”. Assim sendo, identifique os seus medos e os desafie. Augusto Cury, outro brilhante pensador, afirma no mesmo sentido: “Não tenha medo da vida, tenha medo de não vivê-la. Não há céu sem tempestades, nem caminho sem acidentes”.

Neste diapasão, não poderíamos deixar de trazer um poema sobre o medo, de autoria de Osho, denominado: O Rio e o Oceano.

O Rio e o Oceano
“Diz-se que mesmo antes de um rio cair no oceano, ele treme de medo.
Olha para trás, para toda a jornada, os cumes, as montanhas, o longo caminho sinuoso através das florestas, através dos povoados, e vê à sua frente um oceano tão vasto que entrar nele nada mais é do que desaparecer para sempre.
Mas não há outra maneira. O rio não pode voltar. Ninguém pode voltar. Voltar é impossível na existência. Você pode apenas ir em frente. O rio precisa se arriscar e entrar no oceano. E somente quando ele entra no oceano é que o medo desaparece.
Porque apenas então o rio saberá que não se trata de desaparecer no oceano, mas tornar-se oceano. Por um lado é desaparecimento e por outro lado é renascimento.
Assim somos nós. Só podemos ir em frente e arriscar. Coragem!! Avance firme e torne-se Oceano”.

Acima falamos do medo real e fundamentado, que possui um aspecto positivo de preservação da espécie, pois abrange o instinto de sobrevivência e falamos também dos medos e fobias que alimentamos, que são mais irracionais e imaginários, de aspecto negativo e limitadores da essência humana, onde a cura passa pelo enfrentamento e o domínio sobre o medo, mas não poderíamos terminar esse texto sem falar de um medo, que na minha humilde concepção é o pior que existe: O medo que o ser humano sente do outro ser humano.

Dois exemplos que retratam essa triste realidade, dentre inúmeros que poderíamos trazer, aconteceram recentemente. Em um deles, um torcedor do Santos foi morto a pauladas quando passeava tranquilamente com um amigo depois de comprar uma bebida em um posto de conveniência, simplesmente por não torcer pelo mesmo time de seus agressores.

O que fazer nesse caso? Devemos enfrentar o medo e sair com a camisa do nosso time, mesmo correndo o risco de encontrar um maluco que possa nos assassinar a pauladas pelo simples fato de não torcermos pelo mesmo time que o dele? Ou é melhor nos omitirmos, não viver nossa essência, nos limitarmos, para preservarmos nosso instinto de sobrevivência. Esse é um medo irracional e imaginário ou real e fundamentado? Quer a resposta? Eu não vou dá-la, pois nem eu sei qual é a resposta para isso. Sei que é resultado da falta de Amor, mas como incutir Amor em pessoas que ainda não aprenderam a Amar? Que ao invés de preservar a vida a destroem?

Outro fato ocorreu em Paris, onde pessoas foram mortas em vários locais, entre cafés, restaurantes e teatros, simplesmente por professarem uma crença religiosa e um estilo de vida diferente da dos seus agressores. Muitos vão falar: “Ah, são terroristas e devem ser eliminados da face da terra!” Mas aí eu penso: Quantas pessoas não foram mortas em um passado não tão distante pela Igreja na época das Cruzadas e na época da Inquisição? Isso também se deu em nome de Deus. O que fazer em tais situações? Será que uma nova guerra é o caminho para paz? Será que a paz combina com guerra e com a morte de soldados, civis e inocentes? Até quando continuaremos neste ciclo de destruição e morte? Até quando seres humanos continuarão sentindo medo de outros seres humanos? Até quando seres humanos continuarão matando outros seres humanos?

Há uma música cantada por Lenine e Julieta Venegas, chamada “Miedo”, ao qual transcrevemos alguns trechos que servem para reflexão, nesse momento de medo e dor que assola o Mundo:

O medo é uma sombra que o temor não esquiva
O medo é uma armadilha que prendeu o amor
O medo é uma alavanca que apagou a vida
O medo é uma fenda que aumentou a dor
Tenho medo de gente e de solidão
Tenho medo da vida e medo de morrer
Tenho medo de ficar e medo de escapulir
O medo é uma linha que separa o mundo
O medo é uma força que não me deixa andar
Medo que dá medo do medo que dá

Em alguns casos, parecemos ter a resposta para os nossos medos, em outros, parece que não temos resposta alguma. A isso chamamos de angústia, que é o sentimento de insegurança, inquietude, acarretado por dor, sofrimento, falta ou carência.

E essa angústia se explica pela falta e pela carência de Amor. Quando falta Amor no coração dos homens, sobram medos e angustias.

Até quando?

Quando vamos aprender a lição do Amar ao próximo como a nós mesmos?

Quando vamos nos unir ao invés de separar e dividir?

Quando deixaremos de ser Rio e nos tornaremos Oceano?



(Texto de Autoria de Claudinei Almeida Milsone)

terça-feira, 3 de novembro de 2015

AS CORES


“Gosto das cores, das flores, das estrelas, do verde das árvores, gosto de observar. A beleza da vida se esconde por ali, e por mais uma infinidade de lugares, basta saber, e principalmente, basta querer enxergar”.

AS CORES – E A MAGIA DE UM UNIVERSO COLORIDO

Em algum dia da sua vida, ao levantar-se da cama, você já agradeceu as cores? Agradeceu pelo amarelo dourado do Sol, o azul do Céu e do Mar, o verde da Natureza, o rosa e o violeta encontrado nas flores, o branco das nuvens, sem esquecer do vermelho, cor do coração, que transborda Amor e Paixão?

Será que em algum momento da tua existência você já parou para contemplar o espetáculo colorido que nossos olhos tem acesso diariamente e de forma gratuita? E reparou que tudo a nossa volta é repleto de cores, tornando todas as coisas mais belas?

Se a sua resposta para as perguntas acima foi não, então eu simplesmente lhe digo que nunca é tarde para começar a agradecer, pois você já imaginou o que seria um mundo sem cores? Ou se Deus tivesse criado o mundo em preto e branco ou simplesmente monocromático?

Com certeza o mundo teria um aspecto triste, pois são justamente as cores que trazem vida e alegria ao Universo. As cores estão presentes na natureza distinguindo espécies em todos os reinos: mineral, vegetal, animal e hominal. Somos agraciados com infinitas combinações de cores de cristais, flores, frutas, vegetais, animais, pássaros, entre outros; cada qual resplandecendo sua beleza através de uma ou mais combinações de cores.

No reino hominal temos pessoas que nascem com olhos pretos, castanhos, verdes, azuis. Outros que possuem cabelo preto, castanho, branco, louro ou ruivo. Temos os índios conhecidos como pele vermelha, os povos orientais denominados de pele amarela, os europeus ou povos ocidentais também chamado de homem branco, e os africanos ou negros, além da miscigenação existente com o cruzamento entre as raças. Todos fazendo parte de uma única família: A FAMÌLIA HUMANA.

Como você pode perceber as cores se misturam no Universo resultando em uma composição bela e harmônica, que reflete a perfeição e o Amor do Criador para com seus filhos. Mas apesar da beleza das cores, infelizmente em pleno século XXI ainda temos que conviver com o preconceito racial e com pessoas que se julgam superiores, simplesmente por terem uma cor de pele diferente. Na natureza todas elas se misturam e vivem juntas, em harmonias, mas o homem prefere ignorar a beleza dessa mistura e destilar seu ódio racial, através da violência, guerras, supressão de direitos...Isso me faz lembrar a lenda do do Arco-Íris, de autoria desconhecida, que segue abaixo para reflexão:

A LENDA DO ARCO-ÍRIS

Houve uma vez em que as cores do mundo começaram uma disputa entre si. Cada uma reivindicava para si que era a melhor.

A mais importante.
A mais útil.
A mais bela,
A favorita...

As cores se ostentavam, cada uma enaltecendo sua superioridade.

A disputa estava cada vez mais acirrada, quando, de repente, um flash surpreendente de um trovão iluminou tudo...

A chuva verteu implacavelmente.

As cores se encolheram de medo, enquanto procuravam ficar mais perto uma das outras.

No meio do barulho, a chuva começou a falar:

- Vocês, cores tolas, lutando entre si, cada uma tentando dominar as outras...vocês não sabem que cada cor traz um propósito especial? Nem igual, nem diferente? Deem as mãos e venham a mim.

Fazendo como lhes fora dito, as cores se uniram e deram-se as mãos. E a chuva continuou:

- De agora em diante, quando chover, cada uma de vocês se mostrará pelo céu, em um grande arco colorido, para lembrar que se pode viver em paz. Criarão o Arco-Íris; e ele será sempre um sinal de esperança.

E assim, sempre que uma boa chuva lava o mundo, um lindo Arco-Íris aparece no céu, mostrando a amizade e a paz entre as cores.

Na música “Pensamentos”, de composição de Roberto Carlos e Erasmo Carlos, temos uma passagem, que vale a pena ser ressaltada, pois vem ao encontro do texto:

“E eu penso nas razões da existência contemplando a natureza nesse mundo, onde às vezes aparente coincidências tem motivos mais profundos. Se as cores se misturam pelos campos é que flores diferentes vivem juntas, e a voz dos ventos na canção de Deus, responde todas as perguntas”
Quando unimos nossas mãos, nossas diferenças ficam menores. Nosso poder aumenta e nos tornamos muito mais belos. Que um dia possamos alcançar a paz e viver em harmonia, assim como as flores nos campos. E, assim, se torne realidade outro trecho da música "Pensamentos", nos seguintes versos:  

“Quem me dera que as pessoas que se encontram se abraçassem como velhos conhecidos, descobrissem que se amam e se unissem na verdade dos amigos. E no topo do Universo uma bandeira estaria no Infinito iluminada pela força desse AMOR, luz verdadeira. Dessa PAZ tão desejada”

NAMASTÊ




quarta-feira, 21 de outubro de 2015

AMOR


“Quando eu me amo eu me liberto do peso e da necessidade de que você me ame”
(Claudinei Almeida Milsone)

AMOR

Nenhuma palavra no mundo foi tão definida, conceituada e debatida quanto a palavra amor. Ela aparece nos textos religiosos, literários, em poesias, canções e em todas as formas de expressão possíveis e imaginárias. De tudo que eu já li, vi, ouvi e presenciei a respeito do amor, a definição que mais se aproxima da essência e da pureza transmitida por essa palavra foi dada por Naomi Raiselle, nos seguintes termos extraído da página 97 do livro: O Livro do Perdão – O Caminho para o Coração Tranquilo, de autoria de Robin Casarjian, Editora Rocco, 3ª edição.

“O Amor não é mais nem menos do que a expressão simples, honesta e natural da nossa totalidade, da nossa completa auto-aceitação
Essa definição de Amor me faz lembrar de uma música da década de 80, da Banda Ultraje a Rigor, chamada Eu me Amo. Para quem não viveu essa fase ou não se lembra da canção, segue a letra abaixo:

Há quanto tempo eu vinha me procurando
Quanto tempo faz, já nem lembro mais
Sempre correndo atrás de mim feito um louco
Tentando sair desse meu sufoco
Eu era tudo que eu podia querer
Era tão simples e eu custei pra aprender
Daqui pra frente nova vida eu terei
Sempre a meu lado bem feliz eu serei
Eu me amo, eu me amo
Não posso mais viver sem mim
Como foi bom eu ter aparecido
Nessa minha vida já um tanto sofrida
Já não sabia mais o que fazer
Pra eu gostar de mim, me aceitar assim
Eu que queria tanto ter alguém
Agora eu sei sem mim eu não sou ninguém
Longe de mim nada mais faz sentido
Pra toda vida eu quero estar comigo
Foi tão difícil pra eu me encontrar
É muito fácil um grande amor acabar, mas
Eu vou lutar por esse amor até o fim
Não vou mais deixar eu fugir de mim
Agora eu tenho uma razão pra viver
Agora eu posso até gostar de você
Completamente eu vou poder me entregar
É bem melhor você sabendo se amar

Outra definição interessante e que merecer ser trazida nesse contexto foi dada por Clovis de Barros Filho, professor de Ética, da Escola de Comunicações e Artes da USP, em entrevista ao Jô Soares:
“Pare pra pensar. Se você vai ter que conviver com você mesmo até o fim, se você vai ter que se aguentar até o fim, se você vai ser expectador de você mesmo até o fim, é melhor que se encante com você e com o que você faz, senão dificilmente a vida vai valer a pena”
Continuando nessa linha de raciocínio, mas trazendo à tona uma visão mais Espiritualista do Amor, quem não conhece a máxima, que não é contestada por nenhuma crença ou religião, que diz: “Ame o próximo como a ti mesmo”, ou em outras palavras ame o próximo do mesmo jeito como você se ama.

Veja que tanto na frase acima, como na letra da música, no texto extraído do livro e no pensamento do professor Clóvis, o EU ou o TI MESMO vem antes.

Porque estou falando de tudo isso?

Não, eu não estou convidando ninguém a ser narcisista ou nutrir um sentimento de apego a si mesmo, pelo contrário.

 O fato é que nos venderam uma ideia errônea de que somos seres incompletos. Quantas vezes já não ouvimos alguém dizer: “Eu preciso achar minha alma gêmea”, ou, “Quando é que vou encontrar minha tampa”, ou ainda, “Minha outra metade está perdida por aí”.

Toda vez que as pessoas falam de Amor elas sempre colocam mais alguém nessa relação e dividem em Amor de Mãe ou Amor de Pai (tem um filho nessa relação), Amor de Esposa ou Amor de Marido (existe o cônjuge), Amor de Irmão (há um irmão no meio), Amor de Amigo (há uma outra pessoa ligada pelo vínculo da amizade).

Não há nada de errado nessas definições, todavia, elas nos trazem uma falsa percepção de que somente seremos felizes ou completos quando tivermos outra pessoa em nossa vida e nos esquecemos de que já nascemos completos. E agindo dessa forma invertemos o processo natural do Amor, que ao invés de se manifestar de dentro para fora passa a manifestar-se de fora para dentro.

Todos devem concordar que nós só doamos aos outros aquilo que temos. Por exemplo, se eu parar em um semáforo e uma criança pedir para eu comprar um pacote de balas eu só vou concretizar tal fato se tiver dinheiro em meu bolso ou carteira, caso contrário, mesmo que eu queira não vou poder ajudar.

Da mesma forma, se uma pessoa espere que eu a ame incondicionalmente eu só vou conseguir atender a sua expectativa se antes eu me amar incondicionalmente. Se alguém me ofender ou me prejudicar e após vier pedir perdão eu somente conseguirei perdoar se antes eu tiver aprendido a me perdoar. Se o outro aguarda minha compreensão isso só será possível se eu antes tenha aprendido a ser compreensivo comigo mesmo.

Mais uma vez, somente doamos aos outros aquilo que temos dentro de nós. Portanto, torna-se impossível eu amar, perdoar, compreender meu semelhante se eu não consigo agir desta forma comigo mesmo.

Portanto, não é o outro que tem que me completar, mas sim eu mesmo, pois uma vez completo fica fácil de compartilhar o amor, o perdão, a compreensão a todas as pessoas.

Agora, se eu jogo essa responsabilidade para o outro e este vem a faltar ou a me abandonar eu volto a ser incompleto, infeliz, a viver sem amor. Nestes casos, não estamos falando de Amor, mas de ilusões, de romances, paixões, vícios, moedas de troca, tudo menos Amor, pois o verdadeiro Amor está em nosso interior e nuca nos abandona.

Quantas vezes não ouvimos pessoas afirmando:  “Ah fulano se matou por Amor”, ou, “Beltrano matou o outro por Amor”. São os chamados crimes passionais. Isso pode ser tudo, posse, obsessão, mas jamais Amor. Suicídio, Homicídio, Crimes Passionais não podem ser sinônimo de Amor.

O verdadeiro Amor é aquele que liberta, que deseja a felicidade da outra pessoa mesmo que não seja ao seu lado. É o apego com desapego. Isso não impede de que eu sinta saudades, mas de uma forma saudável e que é perfeitamente compatível com a essência e a pureza do Amor.

Desta forma, o verdadeiro Amor está dentro de nós, e ele por si só nos completa, nos faz inteiro e quando eu alcanço sua essência e sua pureza torna-se fácil compartilhá-lo com todas as pessoas que cruzam o meu caminho, sem qualquer tipo de amarras. Passamos a ser multiplicadores desse sentimento mágico.

A escritora Martha Medeiros tem um pensamento análogo que vai ao encontro do texto e que merece ser transcrito:

“Fizeram a gente acreditar que cada um de nós é a metade de uma laranja, e que a vida só ganha sentido quando encontramos a outra metade. Não contaram que já nascemos inteiros, que ninguém em nossa vida merece carregar nas costas a responsabilidade de completar o que nos falta. A gente cresce através da gente mesmo. Se estivermos em boa companhia, é só mais agradável”.
Assim, a medida que a compaixão e o entendimento sobre nós mesmos cresce, começamos a experimentar a verdadeira realidade do amor em nossas vidas.

Entretanto, não se preocupe se você ainda não alcançou esse estágio, pois o amor é paciente e ele aguarda por trás das nossas frágeis ilusões o dia em que alcançaremos a nossa glória inata.

E para inspirá-los, fiquem com a letra da música Monte Castelo, da Banda Legião Urbana:

Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor eu nada seria
É só o amor! É só o amor
Que conhece o que é verdade
O amor é bom, não quer o mal
Não sente inveja ou se envaidece
O amor é o fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer
Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor eu nada seria
É um não querer mais que bem querer
É solitário andar por entre a gente
É um não contentar-se de contente
É cuidar que se ganha em se perder
É um estar-se preso por vontade
É servir a quem vence, o vencedor
É um ter com quem nos mata a lealdade
Tão contrário a si é o mesmo amor 
Estou acordado e todos dormem
Todos dormem, todos dormem
Agora vejo em parte
Mas então veremos face a face
É só o amor! É só o amor
Que conhece o que é verdade
Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor eu nada seria

Texto de Autoria de Claudinei Almeida Milsone



O GOVERNO COMO REFLEXO DA SOCIEDADE


O GOVERNO COMO REFLEXO DA SOCIEDADE

“Os que estão em cima raramente empreendem coisas diferentes. Não lhes interessa mudar. O poder e a riqueza são benevolentes para com aqueles que o possuem. E os que se acham muito por baixo, esmagados ao peso da situação, gastam suas poucas energias na simples luta por um pouco de pão”
(Rubem Alves)

Nos tempos remotos da Idade Média a sociedade, de uma forma generalizada, era dividida em três classes: nobreza, clero e o povo.

A condição de nobre herdava-se com o nascimento. Já o clero era subdividido em alto clero (bispos, abades e outros dignitários) cujo poder tinha origem divina, e o baixo clero, constituído de pessoas que se destacavam pela sua riqueza, poder e consideração social. A última classe, maioria absoluta, constituía o povo e estes não possuíam poder ou privilégio algum e viviam unicamente às custas de seu trabalho.

A Nobreza gozava de privilégios, como isenção de impostos e leis próprias. Dentro da nobreza existiam diferentes categorias. Havia os que exerciam funções miliares, enquanto outros ocupavam cargos na política ou na administração. Os nobres eram grandes proprietários de terras, alguns obtinham lucros da sua participação no comércio e acumulavam riquezas. Em resumo, formavam a classe dos mais abastados e prestigiados da sociedade.

O Clero constituído de pessoas cultas, alfabetizadas também possuíam grandes propriedades de terras e na sociedade se ocupavam do culto religioso, do ensino, assistência e, assim como os nobres, gozavam de privilégios.

Já o povo, bem o povo, sustentava com o seu trabalho toda a sociedade. Constituíam a grande maioria da população e estavam sujeitos a deveres, obrigações, pagamento de impostos e não gozavam de privilégios e nem detinham poder algum.

Enquanto as duas primeiras classes se definiam em termos das marcas que possuíam por nascimento, poder divino ou prestígio social, os últimos afirmavam: “Por nascimento nada somos. Nós nos fizemos. Somos o que produzimos”.

Todavia, com a expansão do comércio, essa última classe começou a se interessar por produzir em maior escala, aprendeu a racionalizar o trabalho, empreendeu viagens para descobrir novos mercados, passou a comercializar, obtendo, com isso, lucros e riquezas.

E foi assim que essa última classe passou a contestar o poder inútil dos que ocupavam os lugares privilegiados da sociedade medieval, comparando com o poder de utilidade prática daqueles que mesmo sem possuírem quaisquer privilégios eram capazes de alterar a sociedade por meio de seu trabalho. Surgia, então, a burguesia.

Com o avançar do tempo e o fortalecimento da burguesia estes passam a aspirar o poder, visando a modificação da na estrutura social. E através da revolução comercial o utilitarismo do trabalho se impôs sobre a inutilidade dos privilégios e benefícios.Desde então, a burguesia passou a governar, na maioria dos países, as atividades das pessoas, o que nos levou séculos depois a um mundo globalizado e capitalista.

Esse sistema nos trouxe grandes avanços tecnológicos, conforto, conquistas materiais, mas neste ponto eu arrisco uma pergunta: A sociedade, em sua essência, se modificou? Leia novamente a citação inicial de Rubem Alves e tente responder.

A resposta foi não. Correto?

Para refletir um pouco mais tomemos como exemplo o nosso país Brasil. Os nobres de ontem nada mais são do que nossos políticos de hoje e que gozam de imensuráveis privilégios.  Para ficar mais claro vamos citar e descrever o cargo de Presidente da Câmara dos Deputados, órgão em tese de representação do povo.

Segundo fonte de notícias do site UOL publicado em 27 de janeiro de 2015, (http://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2015/01/27/casa-carro-e-47-funcionarios-conheca-as-mordomias-do-presidente-da-camara.htmo). O Presidente da Câmara recebe de salário a quantia mensal de R$ 33.700,00 (trinta e três mil e setecentos reais). Além do salário o presidente da Câmara tem direito a nomear 47 funcionários para o auxiliar no cargo. Juntos, os salários desses 47 funcionários custam R$ 4,2 milhões anualmente (doze salários, mais os valores referentes ao 13º salário). Além desses 47, é importante lembrar que todos os deputados (independente do cargo na mesa diretora) já têm direito a 25 funcionários e a uma verba de gabinete no valor de R$ 78 mil por mês. Na prática, o presidente da Câmara tem direito a 72 funcionários, que custam aos cofres públicos R$ 5,2 milhões por ano.

Fora essa estrutura o Presidente da Câmara ainda tem a seu dispor, para moradia, uma casa de 800 metros quadrados de área construída na região conhecida como Lago Sul, uma das mais nobres de Brasília. A casa tem quatro quartos, escritório, sala de jantar e piscina.

Tem direito a carro oficial com dois motoristas (em esquema de revezamento) à disposição.  Tem direito de viajar em aviões da FAB (Força Aérea Brasileira), sendo que os aviões só poderão ser utilizados se as viagens atenderem os seguintes requisitos: motivo de segurança e emergência médica, viagens a serviço e deslocamento para o local de residência permanente do presidente. Caso o presidente opte por viajar em avião de carreira, a despesa será paga pela Câmara.

Achou muito. Se contarmos que hoje o Brasil possui eleitos 513 Deputados Federais, 81 Senadores, 39 Ministérios, cada um possuindo vários funcionários atrelados e, contando ainda que eles têm direito ao salário, 13º salário, 14º salário e pasmem 15º salário, além das famosas e variadas ajudas de custos, tais como moradia, viagens, alimentação, cartão funcional e etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc e etc, você irá concluir que os privilégios e benefícios vão muito além aos da nobreza da época medieval.

Para se ter uma ideia mais ampla em 2003 o Governo Federal possuía um gasto com pagamento de pessoal na ordem de R$ 79 bilhões. Em 2013 alcançou a impressionante marca de R$ 222 bilhões. Atualizando esses dados para 2015, ao todo já são mais de 600 mil servidores, fora os mais de 100 mil nomeados em cargos de confiança. Segundo edição de nº 2365, de 27/03/2015, da Revista Isto É, para manter essa estrutura hoje já são gastos mais de R$ 400 bilhões anuais.

Falamos da Nobreza, mas quem seria o Clero de hoje?

Nada mais do que as pessoas detentoras de grandes capitais e bens, proprietárias de Empresas e Construtoras e que são intimamente ligadas ao Poder Público, e que financiam campanhas políticas em troca de favores, benefícios e privilégios, que fraudam licitações, que ganham contratos mediante o pagamento de propinas, com desvios de verbas ou superfaturamento e etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc e etc, além de outras falcatruas e jogos de poder que sua mente conseguir imaginar.

Direta e indiretamente eles determinam o andamento da economia, no intuito de resguardar seus interesses escusos. Juntos a nobreza e o clero atuais conseguiram protagonizar o maior escândalo de corrupção já conhecido neste país, onde desviaram mais de R$ 35 bilhões da Petrobrás, fato que ficou amplamente conhecido pela sociedade como Operação Lava Jato, conseguindo, inclusive, que a nota do País no Mercado Internacional fosse rebaixada, como sinal de alerta aos investidores.

E o povo, bem o povo, como na Idade Medieval, continua sustentando toda a sociedade com o seu trabalho. Neste ponto, meu caro leitor, você deve ter se identificado com esta última classe e está se sentindo vítima da situação, correto?

Errado, meu caro leitor. Você é o responsável pela situação. E antes de ficar indignado com esta afirmação e interromper a leitura do texto, peço a gentileza que você acompanhe até o final, para depois tirar suas próprias conclusões.

Vejamos. Há quarenta anos atrás os vilões eram os Militares, que também podiam ser chamados de Nobres à época, pois eram detentores do Poder e determinavam o caminho a ser seguido. As pessoas que hoje estão no Poder, naquele tempo, constituía o povo oprimido, perseguidos políticos, muitos torturados e mortos pela ditadura. Com o passar do tempo, surgiram os movimentos sindicais, protestos pelo retorno da Democracia, tais como os da Diretas Já, sendo que muitos destes opositores fundaram o Partido dos Trabalhadores e hoje encontram-se governando o País.
Pois bem, essas pessoas que hoje estão no poder recentemente moveram sete (7) processos contra uma revista amplamente conhecida e conceituada na mídia por causa de algumas reportagens sob alegação de calúnia e difamação.
Esse mesmo partido pensa em processar o Ministro do STF Gilmar Mendes por ter, durante o seu voto a favor da proibição ao financiamento privado de campanha, ter discursado contra o partido. Fonte: http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,pt-avalia-processar-gilmar-mendes,1764285
Ora, não eram essas mesmas pessoas que eram contra a censura e a falta de liberdade de expressão e opinião?
Esse mesmo governo pretende aumentar impostos, recriar a CPMF, até por decreto se for preciso. Fonte: http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,governo-cogita-subir-imposto-por-decreto, 1758011. Tudo isso contra a vontade popular e para cobrir o rombo no orçamento que eles mesmos criaram. Agora eu pergunto: Não eram essas mesmas pessoas que atestavam que governar por decreto era ditadorial e culpavam os militares pela dívida externa e pela inflação.
E antes que você pense que este texto é da direita, que o escritor é antipetista, capitalista ou a favor dos militares ou que acredita nesta separação sem sentido entre ricos e pobres, esquerda e direita, comunismo e capitalismo, elite branca e negros marginalizados, norte e nordeste x resto do páis, PT versus PSDB, ou está defendendo qualquer outro partido, candidato ou classe, afirmo que você está equivocado. Eu sou a favor do ser humano e da sociedade.
E neste momento do texto eu pergunto mais uma vez. Da época Medieval até agora, a Sociedade, em sua essência, se modificou?
A resposta, ainda é não, pois o ser humano, em sua essência, não se modificou. O macro apenas reflete o micro. O governo é espelho do seu povo. Nós ainda vivemos em uma ditadura, uma ditadura mascarada de democracia, que é a Ditadura do Poder.
A música “Que País é Este” foi escrita pelo falecido Renato Russo em 1978, na época da Ditadura Militar, e lançada pela Banda Legião Urbana em 1987, quando o Brasil já não estava mais sob o regime militar. Em um trecho a canção contém os seguintes dizeres: “Nas favelas, no Senado, sujeira pra todo lado. Ninguém respeita a Constituição, mas todos acreditam no futuro da Nação...”
A canção e sua letra são atemporais, ela foi escrita em 1978 e trinta e sete anos depois (37) estamos abordando os mesmos assuntos, sujeira pra todo lado, corrupção, desrespeito a Constituição. Tá certo que acrescentamos algumas coisa ruins, tais como a nova onda de arrastões nas praias cariocas. Em plena cidade maravilhosa que recebe a todos com a imagem do Cristo Redentor de braços abertos...A que ponto chegamos. Isso que é sujeira pra todo lado...
E você caro leitor, assim como eu, assim como toda a sociedade, somos responsáveis, pois fazemos em nosso mundo micro do dia a dia e dos negócios, tudo que os governantes fazem no mundo macro da política. Vou exemplificar partindo de uma experiência própria.
Há alguns anos atrás trabalhei em um grande banco privado deste país, na área de financiamento de veículos. Atuava como operador de negócios e atendia em média de 15 a 20 revendas de automóveis. O meu gerente tinha uma verba X para oferecer as revendas a título de acordo comercial. Nós como operadores, selecionávamos as revendas com maior potencial de vendas e fazíamos a seguinte proposta aos revendedores: Se você me passar X valor de financiamento no mês eu te devolvo Y em dinheiro a título de acordo comercial.
Muitos irão responder: E o que isso tem a ver. Isso é normal. Faz parte do mundo dos negócios. Saiba você que essa explicação tem um nome e Freud denominou de Racionalização, que é o processo de achar motivos lógicos e racionais aceitáveis para pensamentos e ações inaceitáveis, ou seja, para justificar seus próprios atos.
Explica-se: Quando um banco financia um veículo é porque uma concessionária ou revenda está efetuando uma venda e isso ocorre pelo fato de ter um consumidor realizando uma compra e, como ninguém dá nada de graça para alguém, muito menos Bancos, quem está pagando esse acordo comercial, esse comissionamento pago ao lojista, é você consumidor, é você como povo, pois o valor referido estará diluído nas suas suaves prestações embutidas de juros altíssimos, ou seja, o Banco vai receber de você e, em dobro, o que pagou à Revenda a título de comissão.
E você ainda corre o risco de pagar a taxa mais cara do mercado, porque o lojista não vai te oferecer a taxa mais barata se, com aquele banco ele não tiver acordo comercial, mas não vai pensar duas vezes em te empurrar a taxa mais alta se, deste banco receber o comissionamento.
E qual a diferença para uma Empresa ou Construtora que paga um valor para um Governo ou Partido Político para ganhar um contrato? No final, não é você que estará pagando a conta? A única diferença é que uma situação ocorreu no mundo micro dos negócios empresariais e a outra no mundo macro do poder político.
Caso você ainda não tenha se convencido de que é o responsável pela situação do país, ou alegue que não se encaixa na figura de responsável por não ter vivenciado nenhuma das situações até aqui descritas, então, eu peço licença para citar na íntegra um texto do Ilustre Escritor, já falecido, José Ubaldo Ribeiro, sobre o tema corrupção e com o título: Nós o Povo Brasileiro.
“A crença anterior era que Collor não servia, bem como Itamar e Fernando Henrique. Agora dizemos que Lula não serve. E o que vier depois de Lula também não servirá para nada.
Por isso estou começando a suspeitar que o problema não está no ladrão corrupto que foi Collor ou na farsa que é o Lula. O problema está em nós. Nós como povo.
Nós como matéria prima de um país. Porque pertenço a um país onde a “ESPERTEZA” é a moeda que sempre é valorizada, tanto ou mais que o dólar. Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família, baseada em valores e respeito aos demais.
Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nas calçadas onde se paga por um só jornal, deixando os demais onde estão.
Pertenço a um país onde as Empresas Privadas são papelarias particulares de seus empregados, desonestos, que levam para casa, como se fosse correto, folhas de papel, lápis, canetas, clipes e tudo o que possa ser útil para o trabalho dos filhos...e para eles mesmo.
Pertenço a um país onde a gente se sente o máximo porque conseguiu “puxar”a tevê a cabo do vizinho, onde a gente frauda a declaração de imposto de renda para não pagar ou pagar menos impostos.
Pertenço a um país onde a impontualidade é um hábito. Onde os diretores das empresas não valorizam o capital humano. Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e depois reclamam do governo por não limpar os esgotos. Onde pessoas fazem “gatos” para roubar luz e água e nos queixamos de como esses serviços estão caros.
Onde não existe a cultura pela leitura (exemplo maior nosso Presidente, que recentemente falou que é muito chato ter que ler) e não há consciência nem memória política, histórica e nem econômica.
Onde nossos congressistas trabalham dois dias por semana para aprovar projetos e leis que só servem para afundar ao que não tem, encher o saco ao que tem pouco e beneficiar só a alguns.
Pertenço a um país onde as carteiras de motorista e os certificados médicos podem ser “comprados” sem fazer nenhum exame. Um país onde uma pessoa de idade avançada ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não dar o lugar.
Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o pedestre. Um país onde fazem um monte de coisa errada, mas nos esbaldamos em criticar nossos governantes.
Quanto mais analiso os defeitos do Fernando Henrique e do Lula (hoje a Dilma), melhor me sinto como pessoa, apesar que ainda ontem “molhei” a mão de um guarda de trânsito para não ser multado.
Quanto mais digo que o Dirceu é culpado, melhor sou eu como brasileiro, apesar de ainda hoje de manhã passei para trás um cliente através de uma fraude, o que me ajudou a pagar algumas dívidas.
Não. Não. Não. Já basta.
Como “MATÉRIA PRIMA” de um País, temos muitas coisas boas, mas nos falta muito para sermos os homens e mulheres que nosso país precisa.
Esses efeitos, essa “ESPERTEZA BRASILEIRA”, congênita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui, até converter-se em casos de escândalo, essa falta de qualidade humana, mais do que Collor, Itamar, Fernando Henrique ou Lula (e hoje Dilma), é que é real e honestamente ruim, porque todos eles são brasileiros como nós, ELEITOS POR NÓS.
Nascidos aqui, não em outra parte...Me entristeço. Porque ainda que Lula (agora Dilma) renunciasse hoje mesmo, o próximo presidente que o suceder terá que continuar trabalhando com a mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos.
E não poderá fazer nada...Não tendo nenhuma garantia de que alguém o possa fazer melhor, mas ENQUANTO ALGUÉM NÃO SINALIZAR UM CAMINHO DESTINADO A ERRADICAR PRIMEIRO OS VÍCIOS QUE TEMOS COMO POVO, NINGUÉM SERVIRÁ.
Nem serviu Collor, nem serviu Itamar, não serviu Fernando Henrique, e nem serve Lula, nem servirá o que vier. Qual é a alternativa? Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror? Aqui faz falta outra coisa.
E enquanto essa “outra coisa” não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados...igualmente sacaneados!!!
É muito gostoso ser brasileiro. Mas quando essa brasilinidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, aí a coisa muda...Não esperemos acender uma vela a todos os Santos, a ver se nos mandam um Messias.
Nós temos que mudar, um novo governador com os mesmos brasileiros não poderá fazer nada. Está muito claro...SOMOS NÓS OS QUE TEMOS QUE MUDAR.
Sim, creio que isto se encaixa muito bem em tudo o que nos anda acontecendo; desculpamos a mediocridade mediante programas de televisão nefastos e francamente tolerantes com o fracasso.
É a indústria da desculpa e da estupidez. Agora, depois desta mensagem, francamente decidi procurar o responsável, não para castiga-lo, senão para exigir-lhe (sim exigir-lhe) que melhore seu comportamento e que não se faça de surdo, de desentendido.
Sim, decidi procurar o responsável e estou seguro que o encontrarei. QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO. AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO EM OUTRO LADO.
E você o que pensa?” (José Ubaldo Ribeiro).
Assim, depois de refletirmos sobre esse maravilhoso texto do José Ubaldo Ribeiro, quando formos culpar a ditadura, os militares, a direita, o capitalismo, ou a democracia, a esquerda, o comunismo, o partido ou o político A,B,C ou D, ou qualquer outro fator de sua preferência, lembre-se que HÁ UM PAÍS CHAMADO BRASIL CLAMANDO, IMPLORANDO: “QUE TAL CAMINHARMOS PARA FRENTE?”
Estejamos cientes de que somente culpamos os outros pelo que temos dentro de nós mesmos, mas não queremos aceitar e ou reconhecer em nosso interior. A isso Freud também deu um nome, chama-se Projeção, que nada mais é do que projetar meus defeitos nos outros. Por isso que nosso governo não passa de uma imagem projetada da própria sociedade, do famoso “JEITINHO BRASILEIRO”, de querer ganhar vantagem em tudo, mesmo que em detrimento e prejuízo do outro.
Esse “Jeitinho Brasileiro”, ao qual Carl Gustav Jung definiria como Arquétipo Coletivo, é um vírus, uma doença grave, um Câncer Social, cujo verdadeiro nome é EGOÍSMO, onde cada um pensa em si, sem se preocupar com seu próximo.
Quando curarmos nosso egoísmo, ninguém no mundo estará mais discutindo sobre ditadura, democracia, direita, esquerda, capitalismo, socialismo, pois neste momento, haverá no mundo somente um movimento, o do SOLIDARIALISMO.
E a cura desse Câncer Social, o EGOÍSMO, passa por mim, passa por você, ou como disse José Ubaldo Ribeiro ou Michael Jackson, na música “Main in the Mirror” passa pelo homem ou mulher que está a sua frente no ESPELHO.
E quando chegarmos a esse dia, deixaremos de andar em círculos, pois o governo irá refletir uma nova imagem...a imagem de uma sociedade, MATÉRIA PRIMA DE UM PAÍS, MODIFICADA.
Neste dia, o verdadeiro Amor estará presente, substituindo o egoísmo latente no coração humano e, aqueles que estiverem no poder, seja a época que for, defenderão os interesses coletivos, ao invés de seus próprios interesses. As grandes empresas e pessoas detentoras de capitais e bens passarão a produzir não somente para acumular riquezas, mas também o suficiente para erradicar a miséria e varrer a pobreza e a fome do mundo, bem como passarão a investir em tecnologia não somente para criar mais conforto e fomentar o consumo desenfreado, mas também para equipar hospitais de qualidade, dando condições de todos terem acesso à saúde e construirão e estruturarão escolas para que todos tenham acesso à educação, no intuito de no futuro, todos, por merecimento, possam produzir e acumular suas próprias riquezas, mas sem esquecer do seu semelhante.
Neste dia a frase de Rubem Alves contida no início do texto será refeita nos seguintes termos:
“Os que estão em cima empreende coisas diferentes, pois lhes interessa mudar. O poder e a riqueza somente são benevolentes quando dá condições de todos os alcançarem e quando são revertidos em favor do próximo. E os que se acham por baixo não se sentem esmagados pelo peso da situação e gastam suas energias na simples luta, pela construção de um mundo melhor”
TEXTO DE AUTORIA DE CLAUDINEI ALMEIDA MILSONE.