“Viver com medo é viver
pela metade. Nunca duvide de sua capacidade divina, pois se a vida tem valor é
justamente pelo fato de você ter valor diante da vida. O Mundo só existe a
partir da nossa experiência consciencial e isto requer ação, não omissão.”
(Claudinei Almeida
Milsone)
MEDO
Medo,
palavra pequena de apenas quatro (4) letras, mas tão abrangente quanto o
infinito. O medo representa um estado suscitado pela consciência de um temor,
receio ou perigo, que pode ser fundamentado ou irracional, real ou imaginário.
O
medo parte de um princípio positivo, em especial quando nos deparamos à frente de um perigo real e fundamentado, pois
ele atua em nosso corpo liberando altas doses de adrenalina. O coração passa a
bombear mais sangue para os nossos tecidos e músculos, nossos pulmões, através
dos brônquios, se expandem para captar mais oxigênio e se desencadeia toda uma
série de reações orgânicas que nos preparam para a luta e o enfrentamento ou para
a fuga, mas ambos visam à proteção do ser. É o instinto de sobrevivência
falando mais alto.
Nossos
ancestrais quando se deparavam nos primórdios da humanidade com feras, tais
como leões, tigres ou outros animais selvagens não teriam a menor chance de
sobrevivência se não fosse o medo disparar a adrenalina e desencadear as
reações no organismo que os preparavam para a luta ou fuga. Imagine se ao invés
de olharem para uma fera e sentirem medo eles reagissem: “Eu acho que eu vi um gatinho”,
com certeza não existiríamos e nem estaríamos aqui para contar história.
Quem
não se lembra do menino que perdeu o braço em um zoológico quando estava “brincando”
com um leão. Talvez o sentimento de medo, comum nestas situações, o tivesse
salvado do acidente, que por sorte não foi pior, pois poderia ter lhe custado a
vida.
Portanto,
esse medo, enquanto real e fundamentado, é importante para a preservação da
espécie.
Entretanto,
com o passar dos tempos e o avanço tecnológico não temos mais que nos defrontar
com feras selvagens como nossos ancestrais e, em tese, não deveríamos viver em
uma sociedade com tanto medo, correto?
Todavia,
ocorre justamente o contrário, vivemos em uma sociedade onde um dos sentimentos
mais generalizados é o medo, só que um medo doentio, negativo e limitador da
essência humana. Vivemos pela metade. As pessoas hoje sofrem medo de tudo e de
todos, são fobias e mais fobias.
As
pessoas têm medo de perder o emprego, medo de não conseguirem pagar suas contas
no final do mês, medo de não ser amadas, medo de se expor e não serem aceitas,
medo de fracassar, medo de ficar doentes, medo de andar sozinhas à noite,
outros com medo de andar de avião, medo de dirigir carro, medo de insetos, medo
de água, etc. Há uma infinidade de medos que um ser humano pode nutrir.
Para
citar alguns exemplos limitadores desses medos, tenho uma vizinha no meu
edifício que não desce no mesmo elevador se alguém estiver com um cachorro, mesmo
se for de porte pequeno e estiver no colo. Outra amiga, a quem admiro muito,
que não viaja de avião, mesmo com a filha morando no exterior. Uma colega, que
tem um medo tão grande de água, que somente de colocar a mão em um tanque já
sofre com pensamentos aterrorizantes de estar se afogando. São exemplos de
medos que limitam a expressão de nossa totalidade.
Nos
casos de fobias, dos medos irracionais e imaginários, a cura passa justamente
pelo enfrentamento do medo, pois em resumo, ou nós confrontamos nossos medos e
os dominamos ou seremos dominados por eles.
Para
curarmos nossos medos devemos fazer as coisas as quais temos medo, para
aprender, através da nossa própria experiência, a não temê-las. A ação cura o
medo. Se você ficar pensando muito: vou ou não vou, faço ou não faço, você
estará alimentando o medo. As pessoas devem ser colocadas na situação temida
para que o cérebro emocional se convença de que as coisas terríveis imaginadas
não vão acontecer, ou seja, se alguma coisa te amedronta, te incomoda, não
fuja, enfrente-a. Um ego maduro não busca segurança, ele sai da sua zona de
conforto e vai viver a vida, enfrentando seus medos, arriscando-se, buscando,
ousando.
Desta
forma, ao contrário do que muitas pessoas fazem não devemos afastar os
pensamentos assustadores e sim trazê-los à mente, à nossa consciência e
desafiá-los, para serem examinados e reavaliados. Sufocar os medos e os
pensamentos ruins torna-se contraproducente, pois quanto mais tentamos sufocá-los,
mais eles se tornam recorrentes, pois você acredita neles, aceita como sendo
seus e alimenta as emoções que se originam desse padrão mental e isso se torna
um ciclo vicioso, onde as reações vão ficando cada mais fortes.
Portanto,
não acredite em tudo que pensa. Nós podemos mudar nossos sentimentos de medo
mudando os pensamentos que os produzem. Devemos verificar quais são nossas
alternativas, colocar os sentimentos em perspectiva e reavaliá-los. Você
continuará tendo pensamentos assustadores, continuará sentindo medo, mas
descobrirá que você pode viver com eles, pode dominá-los ao invés de ser
dominado por eles e experimentará uma sensação libertadora, pois estará
vivenciando sua potencialidade e não se limitando ou vivendo pela metade.
Como
já dizia Mark Twain, “Coragem é a resistência ao medo, domínio do medo, e não a ausência
do medo”. Assim sendo, identifique os seus medos e os desafie. Augusto
Cury, outro brilhante pensador, afirma no mesmo sentido: “Não tenha medo da vida, tenha
medo de não vivê-la. Não há céu sem tempestades, nem caminho sem acidentes”.
Neste
diapasão, não poderíamos deixar de trazer um poema sobre o medo, de autoria de
Osho, denominado: O Rio e o Oceano.
O
Rio e o Oceano
“Diz-se
que mesmo antes de um rio cair no oceano, ele treme de medo.
Olha
para trás, para toda a jornada, os cumes, as montanhas, o longo caminho sinuoso
através das florestas, através dos povoados, e vê à sua frente um oceano tão
vasto que entrar nele nada mais é do que desaparecer para sempre.
Mas
não há outra maneira. O rio não pode voltar. Ninguém pode voltar. Voltar é impossível
na existência. Você pode apenas ir em frente. O rio precisa se arriscar e
entrar no oceano. E somente quando ele entra no oceano é que o medo desaparece.
Porque
apenas então o rio saberá que não se trata de desaparecer no oceano, mas
tornar-se oceano. Por um lado é desaparecimento e por outro lado é
renascimento.
Assim
somos nós. Só podemos ir em frente e arriscar. Coragem!! Avance firme e
torne-se Oceano”.
Acima
falamos do medo real e fundamentado, que possui um aspecto positivo de
preservação da espécie, pois abrange o instinto de sobrevivência e falamos
também dos medos e fobias que alimentamos, que são mais irracionais e
imaginários, de aspecto negativo e limitadores da essência humana, onde a cura
passa pelo enfrentamento e o domínio sobre o medo, mas não poderíamos terminar esse
texto sem falar de um medo, que na minha humilde concepção é o pior que existe:
O medo que o ser humano sente do outro ser humano.
Dois
exemplos que retratam essa triste realidade, dentre inúmeros que poderíamos
trazer, aconteceram recentemente. Em um deles, um torcedor do Santos foi morto a
pauladas quando passeava tranquilamente com um amigo depois de comprar uma
bebida em um posto de conveniência, simplesmente por não torcer pelo mesmo time
de seus agressores.
O
que fazer nesse caso? Devemos enfrentar o medo e sair com a camisa do nosso
time, mesmo correndo o risco de encontrar um maluco que possa nos assassinar a
pauladas pelo simples fato de não torcermos pelo mesmo time que o dele? Ou é
melhor nos omitirmos, não viver nossa essência, nos limitarmos, para
preservarmos nosso instinto de sobrevivência. Esse é um medo irracional e
imaginário ou real e fundamentado? Quer a resposta? Eu não vou dá-la, pois nem
eu sei qual é a resposta para isso. Sei que é resultado da falta de Amor, mas
como incutir Amor em pessoas que ainda não aprenderam a Amar? Que ao invés de
preservar a vida a destroem?
Outro
fato ocorreu em Paris, onde pessoas foram mortas em vários locais, entre cafés,
restaurantes e teatros, simplesmente por professarem uma crença religiosa e um
estilo de vida diferente da dos seus agressores. Muitos vão falar: “Ah, são
terroristas e devem ser eliminados da face da terra!” Mas aí eu penso: Quantas
pessoas não foram mortas em um passado não tão distante pela Igreja na época
das Cruzadas e na época da Inquisição? Isso também se deu em nome de Deus. O
que fazer em tais situações? Será que uma nova guerra é o caminho para paz?
Será que a paz combina com guerra e com a morte de soldados, civis e inocentes?
Até quando continuaremos neste ciclo de destruição e morte? Até quando seres
humanos continuarão sentindo medo de outros seres humanos? Até quando seres
humanos continuarão matando outros seres humanos?
Há
uma música cantada por Lenine e Julieta Venegas, chamada “Miedo”, ao qual
transcrevemos alguns trechos que servem para reflexão, nesse momento de medo e
dor que assola o Mundo:
O medo é uma sombra que o
temor não esquiva
O medo é uma armadilha
que prendeu o amor
O medo é uma alavanca que
apagou a vida
O medo é uma fenda que
aumentou a dor
Tenho medo de gente e de
solidão
Tenho medo da vida e medo
de morrer
Tenho medo de ficar e
medo de escapulir
O medo é uma linha que
separa o mundo
O medo é uma força que
não me deixa andar
Medo que dá medo do medo
que dá
Em
alguns casos, parecemos ter a resposta para os nossos medos, em outros, parece
que não temos resposta alguma. A isso chamamos de angústia, que é o sentimento
de insegurança, inquietude, acarretado por dor, sofrimento, falta ou carência.
E
essa angústia se explica pela falta e pela carência de Amor. Quando falta Amor
no coração dos homens, sobram medos e angustias.
Até
quando?
Quando
vamos aprender a lição do Amar ao próximo como a nós mesmos?
Quando
vamos nos unir ao invés de separar e dividir?
Quando
deixaremos de ser Rio e nos tornaremos Oceano?
(Texto de Autoria de Claudinei
Almeida Milsone)